segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Índios pataxós lutam para resgatar as tradições culturais

Na chegada do ano 2000, o Globo Rural dirigiu seu olhar para os 500 anos do descobrimento do Brasil e para os primeiros habitantes de nossa terra. O assunto foi a recuperação da cultura dos índios pataxós. Para eles, o contato com o homem branco provocou a perda da terra, dos costumes e até da própria língua.

Em 500 anos de contato com o homem branco, os pataxós perderam muito, a começar pela terra. Quando os portugueses desembarcaram em Porto Seguro, em 1500, encontraram os índios tupis. Mas em toda a região, desde o norte do Espírito Santo até a altura de Ilhéus, na Bahia, viviam também os ancestrais dos Pataxós. Hoje, os Tupis estão extintos. Os pataxós ainda lutam por seu espaço.

Depois de cinco séculos, é possível se notar gente que nem tem mais feições típicas de índio. Há muita mistura de sangue, com negro e com branco. Dispersos, com pouca defesa no contato com o mundo, as tradições pataxós foram desaparecendo.

Só há dois anos, isso começou a mudar, com a criação das reservas pataxós. A reserva visitada tem 2300 hectares. Fica na Coroa Vermelha, balneário de Santa Cruz de Cabrália, ao lado de Porto Seguro, o portal da descoberta do Brasil pelos portugueses.

Só depois da conquista da terra que começou todo o trabalho de recuperação das tradições culturais dos pataxós, para resgatar músicas, danças, comidas e até plantas que eles deixaram de cultivar ao longo de tantos anos, sem ter terra para viver.

Hoje, a maioria dos pataxós mora na vila da Coroa Vermelha. Para comemorar os 500 anos de Brasil, o Ministério da Cultura construiu o Centro Cultural Pataxó. No centro funcionam o posto médico, uma área para cursos e treinamento e uma escola, onde as crianças aprendem a língua indígena, músicas e danças. A preocupação maior é inspirar nas crianças o orgulho de ser pataxó.

A planta parecida com a mandioquinha, que os pataxós colhem, é a araruta. Dela se faz o polvilho usado pelos índios na produção de remédios, beiju e mingaus. A araruta faz parte de um programa da Embrapa de Recursos Genéticos para resgatar plantas que os Pataxós cultivavam antigamente e que se perderam com o tempo.

O Globo Rural registrou a primeira colheita de araruta em terras pataxós depois de décadas de seu desaparecimento da região. Para os mais velhos é uma oportunidade de matar as saudades da infância. Já para os mais jovens é uma completa novidade. A araruta colhida na roça vai sendo limpa e ralada.

As crianças que estudam na escola do centro cultural logo aparecem e se encantam com a história da araruta.

O resgate genético também envolve a área onde fica a Reserva da Jaqueira, que se estende por 800 hectares de floresta atlântica. No lugar trabalham 50 índios, que desenvolvem atividades ecológicas e culturais.

O passeio pela Reserva da Jaqueira revela alguns segredos da floresta atlântica, guardados na memória dos índios mais velhos. O guia da equipe de reportagem pela trilha é o pajé Remunganha, com sua fala plena de humor e sabedoria.

Na Reserva da Jaqueira os pataxós organizam suas festas, algumas abertas aos turistas. Hoje, a cerimônia é de casamento. Os índios jovens, em idade de casar, cortejam as moças jogando flores. Depois, participam da corrida de toras. O mais rápido tem o direito de escolher a noiva primeiro.

Hoje em dia, os noivos se escolhem livremente. Mas alguns se casam em cerimônias tradicionais. Foi o caso de Taciriema, de 15 anos, e Araçanã, de 16 anos. Eles celebraram a união cercados pela comunidade indígena e na língua maxacali, que substituiu o já extinto idioma pataxó.

Taciriema e Araçanã formam uma nova família Pataxó, confiantes de que esse trabalho de resgate cultural garanta ao seu povo um futuro melhor. Quem sabe um dia seus filhos possam olhar para o passado com o conhecimento e o orgulho que perderam nos últimos séculos.

Em cinco séculos, mais de mil grupos indígenas foram extintos no Brasil.

http://www.defender.org.br/indios-pataxos-lutam-para-resgatar-as-tradicoes-culturais/

2 comentários:

  1. Flávia Conrado: A reportagem mostra como o contato do homem branco com o índio causou perdas para a cultura indígena. Não foi só perda da terra, mas também perda de grande parte da sua cultura, como língua, danças, músicas, comidas, costumes, etc. Há uma grande falta de respeito às culturas indígenas por terem costumes e crenças diferentes da cultura do homem branco, o que não deveria acontecer já que cada povo tem o direito de ter a sua cultura. Atualmente os índios pataxós estão criando reservas para tentar resgatar um pouco dessa cultura perdida e voltar a praticar as suas tradições sem a intervenção de outros povos.

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  2. Maria Rachel Cabral Ribeiro: A reportagem mostra a vontade que existe de resgatar os costumes e tradições dos pataxós. Em contrapartida expõe a forma com que esse modo de vida se perdeu ao longo dos anos e como vai ser difícil a recuperação do mesmo. Hoje o governo e outros órgãos tentam recuperar esses hábitos porém essa perda inclui território, músicas, danças, comidas e até plantas, ou seja algumas coisas que não tem recuperação. Ao investir nisso, o governo espera que essa cultura perdida seja resgatada e que os índios possam voltar às suas práticas sem deixar que "os brancos" influenciem.

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