segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Brasil: Indígenas visitam Europa para falar sobre impacto negativo das hidroelétricas na Amazónia


Três índios da Amazónia estarão na Europa esta semana para falar sobre o impacto negativo da construção de hidroelétricas nas suas terras, declarou hoje uma responsável da organização não-governamental Survival International.

“O objetivo da viagem (dos indígenas) é falar sobre a construção de hidroelétricas na Amazónia, principalmente no Brasil e no Peru”, disse Fiona Watson à Lusa, por telefone, em Londres.

Ruth Buendia Mestoquiari, uma índia ashaninka do Peru, Sheyla Juruna, uma índia juruna da região do Xingu, no Brasil, e Almir Suruí, do povo suruí de Rondônia no Brasil, serão os representantes indígenas que farão o apelo para que três projetos de construção (alguns já iniciados) de centrais hidroelétricas na Amazónia sejam impedidos.

As hidroelétricas em questão são Belo Monte, no estado brasileiro do Pará, o Complexo do Rio Madeira - com duas hidroelétricas - no estado brasileiro de Rondônia, e a hidroelétrica de Pakitzapango, no Peru.

“(Os três índios) querem falar sobre qual será o impacto para os indígenas, que será enorme, no sentido de que irão perder as florestas, os peixes. Muitos dos índios da Amazónia sobrevivem basicamente dos peixes”, sublinhou Fiona Watson.

A responsável da organização não-governamental disse que o impacto social também será muito grande, na medida que a construção das hidroelétrica leva muitas pessoas de fora para a região, provocando 
mais desflorestação e expondo os índios às doenças, à prostituição e ao alcoolismo.

“O governo do Brasil não realizou consultas e, de acordo com as normas internacionais, em qualquer projeto de desenvolvimento em terras indígenas, os governos e as empresas envolvidas devem consultar e conseguir o consentimento prévio e livre dos povos em questão”, referiu Fiona Watson.

A responsável da ONG declarou que, em nenhum caso no Brasil, os povos indígenas não foram ouvidos e estes gostariam de sê-lo.

Fiona Watson ainda disse que os maiores interessados na construção destas hidroelétricas são as companhias de mineração da região e não propriamente a população.

A delegação indígena estará em Paris, na França, na sexta-feira e no sábado, onde participarão numa conferência no Instituto Latino-Americano, após se reunirem com a senadora francesa Marie-Christine Blandin.

Depois participam numa manifestação no sábado, no Parvis des Droits de l’Homme, em Paris.

Os indígenas estarão ainda num protesto, na quarta-feira, em Londres, em frente ao Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES - principal financiador brasileiro dos projetos das hidroelétricas), tendo também um encontro agendado com os parlamentares britânicos.

Os indígenas já passaram por Oslo, na Noruega, estando agora em Genebra, onde visitam a Nações Unidas antes de partirem para a França.

Um comentário:

  1. Verônica Oliveira Souza:
    A convivência entre urbanos e indígenas é por vezes mais complicada do que quer fazer parecer a mídia e seus discursos. Abafa-se os conflitos quando querem criar uma imagem de boa paz por parte do governo. Mas, na realidade quem tem propriedade para falar são os nativos, os que dependem mais que todos da terra, das matas, dos rios. A criação de hidrelétricas sem se fazer notar a opinião indígena local foi e sempre será um desrespeito, tanto no âmbito econômico, quanto no cultural; parecem estar passando por cima das necessidades dos outros, ignorando propositalmente determinados pontos relevantes de maneira a fazerem o que querem sem ter de pedir permissão aos verdadeiros donos do lugar. E aí apela-se para algo que está além do governo: as regras internacionais. E está desenrolado o problema, a fumaça já sobe no vento, e é chegado o tempo de se fazer ouvir o canto emudecido há tanto tempo; falem, índios. Que a voz humana seja ouvida sempre, e que jamais se aceite abusos de poder. Por que, afinal, todos somos brasileiros, e como tal, iguais perante a lei, nem que seja a que mais assuste. Se for este o preço a pagar-se pelo convencimento, é chegada a hora de jogarem-se as moedas na mesa.

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